Hoje, nós vimos os diversos elementos de composição. Obviamente, foi bastante material, mas, como parece ser praxe em várias coisas da vida, o assunto está longe de se esgotar. A questão mesmo não é a quantidade, e sim como e quando usar. Na apostila há uma frase que, ao mesmo tempo que me aliviou, me deixou preocupado: “(…) Dentro deste contexto, a composição visual se diferencia das demais por ser o único momento no qual compomos na mesma linguagem do artefato: a cena é vista, o acontecimento se desenrola durante o ato fotográfico. É, portanto, mais intuitiva, menos pragmática e cartesiana, ainda que exista uma ordem.” Bom, esse é um dos motivos de estar nesse barco: resgatar a intuição no meio desse meu mar cartesiano! Feito o “desabafo”, vamos aos elementos:

Sentido da Leitura

Depende da cultura. Nós, ocidentais, fazemos a leitura de um texto da esquerda para a direita e de cima para baixo. No caso de uma imagem, dependendo da mensagem que você quer passar, é interessante compor usando esse mesmo sentido. Usar o sentido inverso pode causar desconforto.

Enquadramento

O enquadramento pode ser:

  • Horizontal: quando queremos amplitude; bom para paisagens.
  • Vertical: proporciona profundidade; bom para retratos.
  • Holandês: levemente inclinado, passa a sensação de movimento.
  • Quadrado: se mostra estático, sem tensão; foi muito usado para retratos (Hasselblad).
  • Panorâmico: grande campo de visão.

Planos

Os planos são os diversos níveis de “cenários” que uma imagem pode ter. Eles podem ser usados para dar movimento e profundidade.

  • Grande Plano Geral: a ênfase está no ambiente; o sujeito está envolvido por ele, podendo passar o sentimento de solidão.
  • Plano Geral: há uma “conversa” entre o sujeito e o ambiente.
  • Plano Médio: o sujeito preenche o quadro, mostrando sua ação; o ambiente pouco aparece, apenas contextualizando.
  • Primeiro Plano: a atenção está no sujeito e o ambiente é menos importante (uso do desfoque, por exemplo) ou não aparece; pode-se estar querendo captar a emoção de uma fisionomia.
  • Plano Detalhe: quando queremos mostrar um detalhe do sujeito, chegando até mesmo formar imagens abstratas.

Retângulo Áureo e Regra dos Terços

O Retângulo Áureo é aquele que é feito usando-se a Proporção Áurea. Ao traçar retas horizontais e verticais em seus Pontos Áureos (ou da Seção Áurea), encontra-se quatro intersecções que são pontos de interesse, ou seja, quando posicionamos o assunto nesses pontos, eles ganham ênfase.


A Regra dos Terços é uma simplificação do uso do Retângulo Áureo: nesse caso, traçamos retas horizontais e verticais a partir dos terços dos lados do retângulo.

Regra dos Terços

Essas divisões também servem para posicionar o horizonte:

  • No terço superior, a ênfase fica na parte de baixo.
  • No terço inferior, a ênfase fica com o céu.

Claro, podemos quebrar essa regra e colocar o horizonte exatamente no meio da foto, tornando-a monótona.

Posição do Assunto

Além da Regra dos Terços, também é possível posicionar o assunto:

  • Centralizado: criando estabilidade; quando queremos equilíbrio nas extremidades.
  • Lateralmente: gerando instabilidade.

Pontos de Vista

O fotógrafo pode, ao se deslocar pelo ambiente, escolher posicionar sua câmera com a visão:

  • De cima para baixo: colocando a linha do horizonte acima do sujeito, expressa-se fechamento, opressão ou inferioridade do assunto.
  • De baixo para cima: criando a sensação de liberdade, poder ou superioridade do assunto.
  • Ao nível do horizonte ou dos olhos: nesse caso, a mensagem é de intimidade, tranquilidade ou igualdade do assunto.

Perspectiva

É a sensação de profundidade causada pela diminuição do tamanho dos elementos à distância. O uso de uma objetiva adequada ajuda na criação dessa sensação. Outro elemento de apoio seriam linhas convergentes. David Claerbout fez um ensaio chamado “The Algiers’ Section of a Happy Moment” onde ele usa alguns dos elementos de composição vistos até aqui.

Linhas

Os diversos elementos de uma foto podem formam linhas de diversos tipos:

  • Horizontais: são linhas monótonas, calmas, paradas; podem trazer a sensação de passividade e divisão. Andreas Gursky produziu uma foto somente com esse tipo de linha (a foto mais cara da história da fotografia).
  • Verticais: elas podem passar a mensagem de força, poder, expansão, vigor, firmeza, vitalidade.
  • Diagonais: trazem a idéia de movimento; se forem ascendentes, passam positividade; caso sejam descendentes, passam negatividade.
  • Curvas: também trazem a idéia de movimento, mas com mais suavidade.
  • Ziguezague: erráticas, passam ansiedade como mensagem.

Alguns fotógrafos comentados pela professora, além do Andreas Gursky: Cássio Vasconcelos e Cristiano Mascaro.

Luz

Basicamente, temos dois tipos de luz para trabalhar:

  1. Difusa: ela é suave, quase sem sombras; tem meia tonalidade, sem volume.
  2. Dura: causa sombras bem definidas, revelando volumes.

Elas também estão relacionadas a alguns momentos do dia e/ou do tempo:

  • Amanhecer ou entardecer: também conhecidas como horas mágicas ou douradas. Causam sombras longas, sendo bom para fotografar paisagens, texturas e silhuetas. Ao amanhecer, demonstra um tom dourado; ao entardecer, cores ricas e quentes; logo após, um azul crepuscular. Nesse último caso, as luzes da cidade começam a acender, sendo um bom tema para trabalhar, caso que é bom o uso de um tripé.
  • Meio-dia: bastante contraste de luz dura e sombras; é possível trabalhar com altas velocidades.
  • Dias nublados, com névoa ou chuva: boa fonte de luz difusa; no caso de chuva, pode-se trabalhar com reflexos.

Outro ponto a ser levado em conta quando tratamos da luz é a sua direção:

  • Frontal: sem contraste e sombra, minimiza texturas.
  • Contra-luz: cria silhuetas; deve-se atentar para a possibilidade de flares.
  • Lateral: mostra as texturas e o volume do assunto; a sombra passa a fazer parte da composição. Há diversas formas de se trabalhar com ela, passando a idéia de sonho, devaneio, impacto, surpresa, suspense ou drama. O assunto pode ser enfatizado (iluminado) ou escondido (na sombra).

Reflexos

Podem vir de diversas fontes:

  • Espelhos.
  • Água, como rios, lagos e poças.
  • Vidro: causam reflexos confusos, não muito nítidos.

Um fotógrafo que brinca muito com reflexos é o Brassaï.

Texturas

As texturas trazem a sensação de poder tocar o objeto pela foto, revelando sua substância e densidade. Mas, elas também podem simbolizar:

  • Aspereza ou suavidade.
  • Realidade (quando há a presença de textura) ou sua distorção.
  • Tempo (velho ou novo).

Fotógrafo comentado: João Castilho.

Foco / Profundidade de Campo

Quando há pouco profundidade de campo, o foco tem papel na seleção do assunto principal e/ou apelo emocional por causar uma atmosfera difusa. Em contrapartida, quando há  bastante profundidade de campo, a foto transmite maior realismo da cena. Por esse motivo, essa situação é bem usada em fotojornalismo.

Formas

Diz respeito aos contornos dos elementos da foto, mostrando volume e solidez. Também é possível mostrar como esses elementos ocupam o espaço ao se fazer uso de: perspectiva, distância entre objetos, gradação de tons e silhuetas.

Padrões

Os padrões são o uso de repetição de elementos, o que causa a sensação de ritmo e organização, atraindo o olhar e encantando-o.

Figura Humana

Ao se fazer o enquadramento, pode haver a intenção ou necessidade de se cortar alguma figura humana que esteja aparecendo na cena. Deve-se ter em mente que:

  • Cortes laterais causam movimento e instabilidade.
  • Cortes extremos causam impacto.

De qualquer maneira, existe uma regra que “deve” ser seguida: não se corta nas articulações.

Sujeito e Fundo

É interessante, em uma foto, que haja distinção entre sujeito e fundo, de forma a evidenciar o tema, que nem sempre é a figura humana!

Lentes

O uso de cada tipo de lente pode afetar a composição das seguintes formas:

  • Grande-angular: muitos planos, com distorção do primeiro plano; os elementos ao fundo ficam pequenos.
  • Normal: bom para perspectiva, havendo uma boa distribuição entre os diversos planos.
  • Tele: um só plano, pois achata a imagem em um só plano com desfoque nos demais.

Escala

Em uma fotografia é fácil haver a perda da noção de tamanho dos elementos que aparecem. Dependendo do que se deseja, é interessante haver algo para comparar, algo que sirva como referência. Em fotografia de perícia isso é essencial (o perito pode colocar uma régua ao lado do objeto sendo fotografado).

A escala, uma vez referenciada, também pode ser usada para passar determinadas sensações:

  • Se o objeto é miniaturizado, pode haver a percepção de um espaço pessoal, intimidade, segredo e sensualidade.
  • De forma oposta, se o objeto torna-se gigante, passa-se a mensagem de autoridade e impessoalidade (pode ser usado para indicar estado ou coletividade).

Preto e Branco (P&B)

A ausência de cor enfatiza o conteúdo da mensagem (a cor pode ser uma distração).

Também é muito usado em Fine Art, pois a presença da cor nos remete à realidade, enquanto que sua ausência, fornece uma interpretação artística e pessoal.

De qualquer maneira, quando se trabalha em P&B, como as cores pouco importam, as variações de tons são bem importantes, ou seja, deve-se dar atenção ao contraste que pode ser: alto (muito mais preto e branco do que cinza, enfatizando textura e forma), normal (equilíbrio entre preto, branco e cinza) ou baixo (predominância de cinzas).

Cor

A cor é uma percepção visual que fornece uma série de possibilidades na composição:

  • Propriedade física: a luz, enquanto forma de onda eletromagnética, pode afastar ou aproximar o olhar, dependendo de sua frequência (cor). Ainda lembro de uma palestra sobre mensagens subliminares que assisti há muuuito tempo atrás, onde o mestre Calazans disse que o vermelho é percebido antes que o azul pelos nossos olhos.
  • Emoções: as cores são carregadas de significados; não podemos nos esquecer que eles dependem da cultura que estivermos referenciando. Walter Firmo leciona um curso chamado Universo da Cor.
  • Combinações: harmoniosas ou não, pela teoria das cores, temos que: cores complementares causam contraste, as análogas são harmoniosas, as monocromáticas causam fadiga visual, as frias retrocedem e as quentes saltam.
  • Contraste: pode ser de temperatura (cores quentes e frias), luminosidade (claro e escuro), complementares e/ou de tonalidades.

E esses foram os elementos que vimos…

Muita coisa para estudar e entender, não? A melhor forma? Praticar! Toma exercício para casa:

  • Escolher um fotógrafo com o qual você se identifique com o trabalho; por quê? reunir várias fotos dele para apresentar; trazer um foto de sua autoria (impressa 15×20) que tenha elementos parecidos, mas com sua própria linguagem.
  • Fazer uma foto (impressa 15×20) com a seguinte interpretação: “Tinha uma foto no meio do caminho.”
  • Preparar um ensaio pessoal de aproximadamente 15 fotos (impressa 10×15), com o objetivo de se fazer sua edição.

Em tempo, durante a aula, também foram feitos e/ou comentados:

Exercícios

  • Fotografar sem câmera: planejar um ensaio (cinco fotos), procurando um ambiente que proporcione uma “conversa” entre as fotos; após o planejamento, realizar a atividade com câmera.

Outros Fotógrafos